n.3 | ano 1 | mar 2022

MARlon pires ramos

Entrevista

E ter um caderno na mochila é fundamental. Sou essa pessoa que pensa uma frase ou ouve alguma frase massa já escreve pra usar depois.

Muitos poemas do teu primeiro livro se erguem em cima de experiências cotidianas que – não sei se são mas pelo menos – parecem ser autobiográficas. No teu próximo livro, vamos encontrar poemas sobre a pandemia, sobre a entrada na UFRGS, sobre a vida de autor publicado? Fala pra gente sobre teus próximos projetos.

sim total. Meu cotidiano é muito a matéria principal da minha escrita. Nesse próximo projeto não é especificamente poesia mas tem sua poética. Seria um livro de cartas. Cartas em homenagem a minha mãe Maria que faleceu em 2020. Tem sim sobre pandemia alguns momentos na UFRGS mas essencialmente é a nossa relação.

 

Embora todos os teus poemas tenham uma verve lírica, chama a atenção que muitos são bastante narrativos, como toda a excelente sequência sobre o vestibular. Tu tem vontade de experimentar escrever em prosa também? Seja qual for a resposta, nos conta o porquê das tuas escolhas (a gente não quer passar a vergonha de fazer uma pergunta desse tamanho e tu responder apenas “não”).

hahahahahah sim sim tenho lido bastante contos sabe? Até pretendo escrever algo nessa vibe. Mas meu chão é a poesia mesmo. E essa veia de cronista na poesia vem muito do rap saca? Muita referência pra mim, Emicida, Partium, Kamau, essa galera.

 

Como é o teu processo criativo?

minhas referências são mais musicais do que literárias e o que me ajuda no processo criativo é ouvir muito som. Muito som mesmo. E ter um caderno na mochila é fundamental. Sou essa pessoa que pensa uma frase ou ouve alguma frase massa já escreve pra usar depois.

 

Qual foi tua intenção ao trabalhar com uma linguagem mais próxima da oralidade? O que tu diria para quem acha que literatura só se faz com “norma culta”?

digo duas palavras Tudo errado! Hahahah nos meus estudos de literatura preta escritores pretos vejo que muitos usaram e usam muito essa escrita cheia de gírias bem perto da oralidade. Isso aproxima demais a literatura de quem por vários motivos não é tão próximo assim dos livros da literatura, enfim. Isso traz pra perto. Saca? É mostrar que esse jeito entre aspas errado é literatura também. Que é valioso também.

 

O que tu diria para alguém que tem vontade de escrever poesia mas que pensa que esse mundo não é para si, seja porque lhe parece coisa de intelectual, ou de gringo, ou de branco, ou de velho, ou de sábios etc?

escreva! Trabalhando na livraria agora (salve livraria Taverna) uma galera fala eventualmente que escreve mas não mostra pra ninguém. Escreve só pra si. Acho massa mas sempre falo: quando você tiver confiança se permita mostrar seu texto pra alguém. Sempre vai ter uma pessoa que vai se identificar com aquilo que escreveu. Sempre! Essa é a parada mágica da escrita. Saca? Vai lá Tenta. Só pra ver o que acontece.

Marlon Pires Ramos

Escritor, poeta, autor do livro de poesias Marlírico, faz parte da produção da Festipoa Literária – festival literário de Porto Alegre e da Balada Literária – Festival literário em São Paulo.

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