Um romance pode conter fotografias, cartas, recortes de jornal, trechos de diário, poemas, desenhos e até contos. Mesmo assim, um romance ainda é um romance. O que lhe confere a identidade?
Em termos práticos, a gente costuma pensar no romance como uma longa narrativa ficcional em prosa. Dizer qualquer coisa mais que isso seria pecar por excesso. Na verdade, dizer apenas isso já pode ser excessivo, umas vez que há romances que se constituem na junção de narrativas curtas (como Eles eram muitos cavalos), há romances que a gente não sabe bem se são feitos de prosa ou poesia (como O peso do pássaro morto) e há romances constituídos exclusivamente de colagens (como O mez da grippe).
Em termos menos práticos, a gente pode pensar que o romance é um livro que não é uma biografia, nem uma epopeia, nem um conto, nem um ensaio e por aí adiante, chegando à conclusão de que o romance é aquilo que não pode ser nenhuma outra coisa que não um romance. Não é uma definição muito satisfatória.
Há quem considere Dom Quixote o primeiro romance moderno; e há quem considere Madame Bovary o primeiro romance realista; mas há quem defenda que não é nada disso, o que nos coloca de volta a um lugar indefinido. O que pouca gente discorda é que o romance costuma ser uma tentativa de representar o real. De novo, há exceções (os surrealistas estavam mais interessados na tentativa de representação do inconsciente), e já podemos perceber que a história do romance é inseparável de suas exceções.
Em todo caso, na maioria das vezes, romancistas se vinculam à realidade. Enquanto poemas tendem a se vincular a imagens ou sentimentos, e contos podem se vincular a um único fenômeno ou conflito, o romance costuma trazer um esforço por representar, de modo realista, não apenas uma pessoa, mas também o seu entorno. Generalizando, o romance tende a ser um estudo da relação que uma (ou mais) personagem estabelece com os outros e com o mundo.
É graças a essa dificuldade de definição e a essa elasticidade do conceito que o romance pode abarcar tantos outros gêneros dentro de si. Por isso quando alguém nos procura com angústia dizendo “eu quero escrever uma coisa, mas acho que não é exatamente um romance”, a gente logo tranquiliza: tudo bem, a exatidão não faz mesmo parte do romance.
Se você sofre com essa mesma dúvida, conta pra gente nos comentários. Talvez a gente tenha alguma dica ou referência que possa servir de ajuda.